Eleições históricas no Reino Unido. Trabalhistas destronam conservadores com vitória esmagadora

por Inês Moreira Santos - RTP
Phil Noble - Reuters

A meio da manhã desta sexta-feira, ainda havia votos a serem contados. Mas o Partido Conservador assumira desde cedo a esmagadora derrota. A vontade de mudança dos britânicos foi expressamente clara e Rishi Sunak deve sair de Downing Street nas próximas horas. Depois de 14 anos de executivos conservadores, o Partido Trabalhista formará o próximo Governo no Reino Unido. O futuro primeiro-ministro deve ser indigitado pelo rei Carlos III assim que fiquem escrutinados todos os votos e promete "recuperar" o futuro do país. Para Keir Starmer, a "mudança começa agora".

Com os últimos votos ainda por apurar, o Partido Trabalhista conseguiu eleger mais de 410 assentos parlamentares, bem acima dos 326 necessários para conseguir uma maioria. É mais do que certa a maioria absoluta dos trabalhistas, que regressam ao poder ao fim de 14 anos.

Nas primeiras reações no Royal Festival Hall, Keir Starmer congratulou os resultados iniciais alcançados pelos trabalhistas e a mudança no Reino Unido com a derrota dos conservadores."Conseguimos!", celebrou Keir Starmer. "A mudança começa agora".

“E tenho de ser sincero: sabe bem. Quatro anos e meio de trabalho, a mudar o partido. Foi para isto que o fizemos, um partido transformado, pronto a servir o nosso país, pronto a recuperar o Reino Unido ao serviço dos trabalhadores", disse o eleito primeiro-ministro, depois de garantir a vitória nas legislativas britânicas, num discurso proferido em Londres para os militantes trabalhistas, transmitido pela televisão.

"Em todo o nosso país, as pessoas vão acordar com a notícia, aliviadas pelo facto de um peso ter sido retirado, um fardo finalmente removido dos ombros desta grande nação", assinalou ainda.
"As pessoas, aqui e em todo o país, pronunciaram-se e estão prontas para a mudança, para acabar com a política de espetáculo e voltar à política como serviço público", disse. "A mudança começa aqui mesmo, porque esta é a vossa democracia, a vossa comunidade e o vosso futuro. Votaram em nós. Chegou a altura de cumprirmos o que prometemos".

Nas palavras do líder trabalhista, o Reino Unido pode "olhar de novo em frente e caminhar para a manhã, para um raio de sol de esperança, pálido no início, mas cada vez mais forte ao longo do dia, brilhando mais uma vez num país que, após 14 anos, tem a oportunidade de recuperar o seu futuro".

Reconhecendo que a vitória esmagadora do partido acarreta uma "grande responsabilidade", Starmer sublinhou que "as vitórias eleitorais não caem do céu, são conquistadas com esforço e com muita luta”."Não vos prometo que vai ser fácil. Mas mesmo quando as coisas se tornarem difíceis - e vão ser - lembrem-se desta noite", salientou, reforçando a promessa de uma “era de renovação nacional”.

Este triunfo coloca Keir Starmer enquanto líder do partido mais votado no caminho para ser indigitado primeiro-ministro, depois dos resultados finais. O até agora líder da oposição será o segundo chefe de governo do rei Carlos III, mas o primeiro a ir a eleições gerais.
Derrota histórica dos conservadores
O Partido Conservador, de Rishi Sunak, teve o pior resultado da história, com a eleição de pouco mais de 110 deputados. O ainda primeiro-ministro britânico assumiu a derrota depois de conhecidas as primeiras projeções e pediu desculpa pela perda de muitos deputados.

"O Partido Trabalhista ganhou estas eleições gerais, e telefonei a Keir Starmer para o felicitar pela vitória", disse Sunak, num discurso proferido depois de confirmada a reeleição pelo círculo de Richmond and Northallerton, em Yorkshire, no norte de Inglaterra."Hoje, o poder vai mudar de mãos de forma pacífica e ordeira, com boa vontade de todas as partes. Isso é algo que nos deve dar a todos confiança na estabilidade e no futuro do nosso país", saudou.

Sunak admitiu "o veredicto sóbrio" dado pelos eleitores e que "há muito a aprender e a refletir" sobre os resultados.

"Assumo a responsabilidade pela derrota dos muitos candidatos conservadores que trabalharam arduamente e que perderam esta noite, apesar dos esforços incansáveis, do historial local de resultados e da dedicação às comunidades. Lamento",declarou ainda.
Vários membros do Governo conservador britânico perderam os lugares de deputados nas eleições de quinta-feira, que o Partido Trabalhista venceu com uma larga maioria absoluta.

Os ministros Grant Sharps (Defesa), Alex Chalk (Justiça), Gillian Keegan (Educação) e Johnny Mercer (Veteranos), e o secretário de Estado Justin Tomlinson (Energia) protagonizaram o chamado “momento Portillo” ao serem vítimas da “avalanche trabalhista” - expressão usada no Reino Unido para descrever a derrota inesperada em 1997 do então ministro da Defesa, Michael Portillo, para um candidato trabalhista desconhecido, tornando-se num símbolo da vitória esmagadora de Tony Blair.

Sunak foi o mais jovem primeiro-ministro desde 1812 e foi reeleito como deputado.

De acordo com projeções, o Partido Trabalhista ganha as eleições legislativas britânicas com uma larga maioria absoluta, eleger mais de 400 dos 650 deputados, enquanto o Partido Conservador cai para pouco mais de uma centena de parlamentares. O partido dos Liberais Democratas será o terceiro com maior representação parlamentar, ultrapassando o Partido Nacional Escocês (SNP). As projeções preveem que o Partido Reformista (Reform UK), antigo Partido do Brexit, vai eleger dez deputados.

Os resultados finais deverão ser confirmados durante o dia e um novo primeiro-ministro será indigitado pelo rei Carlos III e encarregado de formar governo.
pub